quinta-feira, 19 de julho de 2007

Eu costumava endoidecer

Eu inventava a dor e o riso. Chorava até doer a cabeça. Sorria até doer a barriga. Foi tanto que eu chorei e sorri que mergulhei, por diversas vezes, no vale de lágrimas e, por outras tantas, quase morri de rir. Eu me sentia em uma montanha russa de emoções. Acreditava que viver era isso... Ter sempre os sentimentos a flor da pele e a pele em carne viva, pronta para sangrar, chorar e sorrir ao ser tocada, fosse pelo sol morno ou pela brisa leve, fosse pelo sol ardente ou pelo vendaval. Por isso, eu esperava emoções intensas e intensificava as simples. Exagerava as alegrias até alegrar as tristezas e exagerava as tristezas até cobrir com um manto entristecedor as alegrias. E no auge da doideira, de ponta-cabeça no looping, dessa vez mergulhada entre as estrelas e quase morta de medo, eu desisti de chorar e de rir. Não, eu não tranquei meu coração, eu o libertei.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Eu costumava sorrir

Quando eu ficava muito tempo sozinha, o riso contaminava meus lábios, se espalhava pelo rosto e fazia os olhos brilharem. Muitas vezes, eu nem me dava conta. Começava com um sorriso amarelo e terminava às gargalhadas. Era bom. Aquela história de “faz bem para a alma”. Não precisava de qualquer motivo engraçado. Não precisava sentir nenhuma grande alegria. Era só respirar fundo, pensar na vida e pronto. Sorriso armado. Ninguém para ver. Nenhum motivo para me segurar. Rir, rir, rir e gargalhar até sentir a barriga doída e, assim, me livrar de toda doideira. Depois as bochechas vermelhas. Sem ninguém para olhar. Sem ninguém de quem esconder. Somente por as mãos frias no rosto, sentir a pele quente (às vezes nem isso) e dormir feliz.

domingo, 15 de julho de 2007

Eu costumava chorar

Quando eu ficava muito tempo sozinha, as lágrimas escorriam pelo canto dos olhos, contornavam a boca e pingavam pelo queixo. Muitas vezes, eu nem me dava conta. Começava lacrimejando e terminava aos prantos. Era bom. Aquela história de “alma lavada”. Não precisava de qualquer motivo sério. Não precisava sentir nenhuma dor forte. Era só respirar fundo, pensar na vida e pronto. Vista marejada. Ninguém para ver. Nenhum motivo para me segurar. Chorar, chorar, chorar e soluçar até sentir a cabeça doída e, assim, me livrar de toda doideira. Depois os olhos vermelhos. Sem ninguém para olhar. Sem ninguém de quem esconder. Somente ver o reflexo no espelho do banheiro, lavar o rosto (às vezes nem isso) e dormir aliviada.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Segredo estratégico-sedutor

Primeiro, atrai-me com palavras suaves e buliçosas para a clausura íntima. Deixa-me lá enquanto eu, progressivamente, enlouqueço de vontades. Vontade de estar com você. Vontade de quem eu sou quando estou com você. Vontade de sentir-me em você. Vontade de sentir você em mim. Em seguida, adia a visita e vai, simultaneamente, prolongando o meu prazer. Prazer que morde e marca sua pele. Prazer que emudece prendendo a respiração. Prazer que grita até perder a voz. Então, pergunta-me cinicamente de onde vem todo esse desejo viscoso umedecendo até a alma. E, fingindo que desconheço seu segredo estratégico-sedutor, respondo que não sei.